- depois de dezoito anos, sete meses e vinte e cinco dias.

- Digamos que por 18 anos eu tentei imaginar como seria bater de frente com o cara que me rejeitou. Com o cara de deixou minha mãe sozinha e grávida pra ir para uma cidade a mais ou menos 600 km casar com outra (no caso, a corna) que nem sabia da existência da minha mãe. Durante esses 18 anos eu queria saber porque ele nem quis saber de mim e queria saber porque ele não foi contra a ameaça da mãe dele, quando ela disse que mataria minha mãe e a mim (que era apenas um feto), se por acaso a gente atrapalhasse o casamento dele. Durante 18 anos eu sofri em ser a única da turma por não ter histórias de um pai pra contar, e chorei muito por ter dentro de mim o sentimento da rejeição.

Minha mãe sempre fez de tudo pra eu não sentir isso, e sentir que ela me amava acima de tudo, mas eu sei que ela também sofreu muito com isso, aliás, eu sou a lembrança mais forte de que ele existiu um dia na vida dela. E ela sempre me dizia que era melhor não ter um do que ter alguém que não gostasse de mim. Mas eu sempre tive um e que nunca gostou de mim. Que nunca se preocupou em saber se eu estava bem, em saber como eu era, se eu passava fome, se eu passava frio... alguém que nunca se preocupou comigo. Durante 18 anos eu imaginei como seria olhar pra cara desse homem.

E isso aconteceu. E eu nem sabia que era ele e, quando minha tia me disse, teve que me segurar para eu não socar a cara dele. Nunca imaginei que pudesse sentir tanta mágoa de alguém, nunca imaginei que olharia alguém com tanto ódio. Liguei pra minha mãe na hora e disse que tinha visto ele, ela sorrindo, me perguntou como eu estava; disfarcei bastante disse que estava bem. E foi o que eu fiz o resto do dia, disfarcei. Eu queria ter realmente socado a cara dele dentro da loja e ter dito tudo que está entalado na minha garganta a dezoito anos, sete meses e vinte e cinco dias. Mas eu esperei esse tempo todo, posso esperar mais um pouco. É uma pena pra ele porque, quanto mais o tempo passa, mais a mágoa e o ódio aumenta.

- meu dia ainda vai chegar! e ele não perde por esperar!
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