- Sobre quase ser assaltada.

Era uma vez, eu voltando da faculdade pelo caminho de sempre quando começo a ouvir passos atrás de mim. Passos em um caminho onde eu passo sempre e nunca tem ninguém passando, ninguém. Geralmente, eu sou escoltada indiretamente (não tenho tanta certeza assim desse indiretamente) por viaturas policiais, nesse dia, não tinha nenhuma. 
Ao dobrar a esquina, os passos ficaram mais perto e mais rápidos.

- Moça, você sabe que horas são?
- Desculpa, mas eu não tenho relógio e não ando com celular nesse horário. (claramente tentando despistar, inutilmente)
Nesse momento ele tira a mão que estava escondido nas costas. Tinha algo que parecia uma faca. 
- Moça, para e passa a mochila que isso é um assalto.

Nesse momento, parece que passa tudo na sua cabeça em milésimos de segundo e tudo que eu consegui fazer foi correr. E como eu corri. Corri por quatro quarteirões em zigue-zague. No segundo eu já percebi que ele não estava mais atrás de mim, mas eu não conseguia parar de correr e continuei até minhas pernas não aguentarem mais.

Quando parei de correr, eu tremia. De dor nas pernas. Eu tremia de dor. Decidi continuar meu caminho andando depois de ter certeza de que ele não estava atrás de mim. E fui, atenta. 
Chegando perto de casa, depois que a adrenalina da corrida passou, eu comecei a tremer de novo. Dessa vez era medo, desespero e comecei a chorar. Chorei por 4 quarteirões até chegar em casa. Chorava e tremia porque comecei a pensar em novos caminhos que teria que fazer e que como um acontecimento mudaria a minha rotina e eu tive medo. Medo de ser seguida de novo. Medo de que acontecesse outra vez.

Cheguei em casa e contei pra minha mãe e ela ficou mais desesperada do que eu, e eu percebi que o meu desespero era quase nada perto do dela e daí eu fiquei com mais medo ainda. Tive dificuldade pra dormir naquela noite porque eu não conseguia parar de pensar. E eu não consigo parar de pensar até hoje.
Eu nunca tive medo de andar no meu bairro, foi ali que eu nasci, cresci e nunca tinha acontecido nada. No dia seguinte, eu fui trabalhar e eu estava com medo de andar no meu bairro de dia. Eu fui de casa ao trabalho assustada pensando que poderia acontecer de novo e que eu tinha que estar preparada sempre. A noite, eu mudei o ponto que eu descia e preferi ser atacada pelos cachorros (isso é papo pra outro post). E nessa noite passaram um monte de viaturas, tinha muita gente na rua e os cachorros não me atacaram. 
Era pra ter sido naquele dia. Parece que era pra eu viver aquilo pra ficar mais atenta. E agora eu estou. Muito mais.


p.s.: Não tem lição nenhuma nesse post. Eu só queria desabafar mesmo algo que estava me sufocando. E importante dizer que, agora eu tenho uma carona e não volto mais pra casa sozinha!

Um comentário:

  1. Deus abençoe a carona, amiga.
    Ser assaltado (ou quase) é uma das experiências mais degradantes da vida. A gente se sente um lixo. Um nada na ordem das coisas.

    Dá cá um abraço [-]

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